Desvio a cortina, olho pela janela, vejo a rua, encontra-se deserta, quase que esmagada pela brutalidade da noite que agora assenta sobre ela, algo de tão pesado que seria impossível de a atravessar. Sentem-se os passos dados, os beijos e os olhares trocados, os sorrisos mal amanhados, as vergonhas, os risos de ir ás lágrimas, os gritos das crianças, ouvem-se ainda as palavras deixadas no ar pelos outros.
Antes que pudesse explicar tudo aquilo que imaginava que tivesse invadido durante o dia aquela rua, ligaram-se as luzes, primeiro laranjas e lentamente passando a amarelas, uma a uma, fazendo um caminho, daqueles que fazemos com os dedos bem apontados ao céu, para tentar encontrar algum caminho, alguma regressão que nos trace uma recta para nos orientarmos.