12 fevereiro 2012

Bi-tate

1) Estava eu curiosa para saber os números, os oito e oitenta que costumam dizer dos participantes nas manifestações. Cedo foi publicado o oitenta (trezentos mil) mas, até agora, quanto ao oito nem um pio. Não tenho uma interpretação benévola da omissão. Parece-me que, como é jogo para não correr de feição, não se vai a jogo. Como fazia o gordinho dono da bola quando amuava porque não lha passavam, agarram-se à bola e ficam em casa. É que só se compete com quem se reconhece como igual e o pessoal deste governo é pessoal de superior casta regeneradora, uns predestinados que não se vão pôr a medir forças com o comum dos mortais, muito menos daqueles mortais mesmo comuns, que vão para a rua desfilar todos juntos. A competição é uma força demasiado socializadora para esta gente, porque para competir precisa-se dos demais, ninguém compete sozinho. Esta é gente não competitiva, que o que quer é deixar de competir quanto antes e, por isso, procura a todo o custo subjugar rapidamente tudo e todos que não sejam iguais a eles próprios, nem que tenha de lhes chamar piegas e de lhes por macaquinhos no sotão por não serem perfeitos, perfeitos e viveram melhor do que os avós que dividiam uma sardinha, quando havia...

 2) Pelos vistos é piegas quem não é todo modernaço e fura-vidas, quem não é avesso a celebrações configuradas pela cultura, quem não fala sete línguas e não anda a aprender mandarim, quem já teve dores de cabeça e dúvidas regulares, muito mais quem perturba a sua elegante eficácia com filhos com sarampo ou varicela. Se a palavra piegas é o menos, podendo só revelar um léxico pobre ou um paternalismo didáctico dispensável, preocupante mesmo é ele acreditar no seu modo prafrentex e achar que qualquer comportamento que aí não se enquadre só pode ser o resultado de uma mândria pessoal cuidadosamente preparada, muito estimada e estrategicamente usada por cada um. Haja resistência para pensamento tão raso, que mais parece uma avioneta desgovernada a ver se acerta numa pista improvisada para entender a pluralidade de condições da vida de cada um.