Ainda se lembram da sentida declaração de pobreza do presidente Aníbal? Escrever hoje sobre isso quase se assemelha a fazer arqueologia ou exegese bíblica. Se a “espuma dos dias” de Boris Vian fosse um país, era Portugal, onde a memória não dura um bater de asas e o Q.I. dos naturais fica em suspenso no domingo-de-colocar-a-cruzinha-depois-da-missa. Ainda assim, chegou para meia-dúzia de entendedores, levados pelo impulso vai-não-vai da “tesão do mijo”, se apressar a hipotecar-lhe a carreira política. Assim, sem fazer por menos. Caramba, o homem vai a caminho dos 73 e já leva na testa um post-it amarelo a anunciar o has-been. Daqui para a frente, pouco mais que sofá, fatia de bolo-rei e chinelos ao xadrez em frente à Júlia Pinheiro, como bom e vigilante senador da nação. Como se ser desbocado tivesse implicações no que quer que seja. Só uma brisa que passa, a lusa indignação é coisa de dias e de usar no café para fazer peito aos amigos. Passa com uma boa noite de sono.